O ÚLTIMO VOO
Há alguns dias eu arrumava os cabelos em frente ao espelho do banheiro quando ouvi o zumbido de uma abelha voando em círculos em torno de meu corpo, como se quisesse me dizer, insisistentemente, algo que não consegui entender.
No primeiro momento me assustei e tentei afastá-la com uma das mãos, mas, ela voltava em sua dança muito bem coreografada.
De repente, foi embora, mas, poucos minutos depois, voltou repetindo o mesmo ritual, até que o zumbido cessou e a vi caminhando no chão do banheiro, chegando à frente dos meus pés, parando, caindo de lado e ali permanecendo imóvel.
Ela escolheu, ou foi enviada de alguma forma, vir compartilhar comigo seus últimos instantes de vida e fazer sua passagem junto a mim.
Tenho uma ligação inusitada com o que chamo de Anjo da Morte. É como se ele me escolhesse para lhe assistir em seu trabalho.
Já tive que presenciar e apoiar vários animais em seus momentos de passagem, desde os meus domésticos , alguns pertencentes à Natureza e os considerados indesejáveis para a convivência humana, denominados sinantrópicos.
Por vários anos percorri o árduo caminho da proteção animal, em trabalho voluntário, concomitantemente ao meu trabalho na área de saúde mental com seres humanos.
Também fui suporte para os últimos momentos e na passagem de minha mãe.
Há uma outra questão em relação à morte, que diz respeito à minha exposição a ela em pelo menos dez situações, que me lembre, desde a gestação de risco que minha mãe enfrentou para que eu chegasse a esta vida até o presente momento.
Mas, este pode ser assunto para uma próxima vez.
O fato é que o ato de desligamento entre corpo e alma para mim é tão normal quanto o ato do nascimento.
Tenho minhas crenças religiosas e provas pessoais que me garantem essa certeza, visto que para mim , crer é importante desde que haja fundamento lógico para tal e que seja passível de análise crítica constante.
O Universo mantém comunicação direta conosco. Só precisamos abrir um canal para que isto ocorra.
E, como dizia Lavoisier, na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Vida e Natureza fazem parte uma da outra.
Vida e Morte são apenas estados diferentes da matéria na eternidade atemporal do Universo.
Dia chegará em que o Anjo da Morte pegará na minha mão e dirá:
Agora é para valer. Chegou a hora de ir embora.
Só espero que esse Anjo seja a cara do Brad Pitt naquel filme "Encontro Marcado".
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